Meu Diário,

By Clara Elisabeth - 20:19


 É extremamente irritante o modo como o meu chefe vê a si e ao mundo: como se este último estivesse inteiramente curvado sob o cetro áureo que esse homem pensa ter. Incrível é a capacidade que ele tem de tratar as pessoas de acordo com seu humor e de impor suas vontades e necessidades aos indivíduos à sua volta. O meu chefe parece realmente crer que é respeitado por todos. O que ele parece não perceber é que aquelas pessoas simplesmente precisam dele. Todas. É como um tirano, que tem poder, sem o mínimo de prestígio. Fora de seu trono, ninguém ofereceria a esse homem nem um caixote em que ele pudesse repousar. O que ele parece não perceber é que ele também precisa daquelas pessoas. Mas enquanto o dinheiro estiver ao seu alcance, o mundo estará aos seus pés.


Sua vida é um caos. Escondido sob a armadura que é a sua imagem altiva, está um homem que não aprendeu a lidar com sentimento de contrariedade e vive para trabalhar e trabalha para lucrar. Sua vida é regida pelas necessidades de produção e reprodução desse sistema que o endeusa e o escraviza simultaneamente. Do outro lado da fachada do seu poder e da sua conta bancária, está uma vida vazia e um casamento ornamental. Sua esposa compartilha com dezenas de outros corpos, o corpo e o pouco tempo que seu marido tem fora do ambiente corporativo. Dois lados que têm em comum a sua falta de ética.


Preciso confessar que a minha vontade às vezes é de gritar por socorro e ser resgatada desse templo monetário, em que o sucesso de um depende da servidão e do enfraquecimento dos poderes de muitos. Por falar em enfraquecimento, não estou me sentindo muito bem e minha cabeça está a ponto de explodir. Viver a base de café não está me fazendo muito bem.




Quarta feira,
20. 08. 1997

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