É extremamente irritante o modo como o meu
chefe vê a si e ao mundo: como se este último estivesse inteiramente curvado
sob o cetro áureo que esse homem pensa ter. Incrível é a capacidade que ele tem
de tratar as pessoas de acordo com seu humor e de impor suas vontades e
necessidades aos indivíduos à sua volta. O meu chefe parece realmente crer que
é respeitado por todos. O que ele parece não perceber é que aquelas pessoas
simplesmente precisam dele. Todas. É como um tirano, que tem poder, sem o
mínimo de prestígio. Fora de seu trono, ninguém ofereceria a esse homem nem um
caixote em que ele pudesse repousar. O que ele parece não perceber é que ele
também precisa daquelas pessoas. Mas enquanto o dinheiro estiver ao seu
alcance, o mundo estará aos seus pés.
Sua vida é um caos. Escondido
sob a armadura que é a sua imagem altiva, está um homem que não aprendeu a
lidar com sentimento de contrariedade e vive para trabalhar e trabalha para
lucrar. Sua vida é regida pelas necessidades de produção e reprodução desse
sistema que o endeusa e o escraviza simultaneamente. Do outro lado da fachada
do seu poder e da sua conta bancária, está uma vida vazia e um casamento
ornamental. Sua esposa compartilha com dezenas de outros corpos, o corpo e o
pouco tempo que seu marido tem fora do ambiente corporativo. Dois lados que têm
em comum a sua falta de ética.
Preciso confessar que a minha
vontade às vezes é de gritar por socorro e ser resgatada desse templo
monetário, em que o sucesso de um depende da servidão e do enfraquecimento dos
poderes de muitos. Por falar em enfraquecimento, não estou me sentindo muito
bem e minha cabeça está a ponto de explodir. Viver a base de café não está me
fazendo muito bem.
Quarta feira,
20. 08. 1997
20. 08. 1997
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