Dia desses estava passeando pelo shopping acompanhando minha
irmã, que comprava roupa para ela. Em algum momento, ela parou numa stand de
havaianas e eu fiquei circulando ali perto enquanto a esperava. Foi assim que
me deparei com uma loja descrita como moda ‘Plus Size’. A priori, achei as
roupas muito bonitas e veio uma sensação de alívio do tipo: “Ufa, que bom,
finalmente vejo roupas de tamanhos maiores com modelos variados”. Mas depois
vieram outros pensamentos não tão confortáveis.
Primeiramente, o fato de aquela loja ter me chamado atenção me
chamou atenção. Vou explicar. O que quero dizer é que aquela loja me chamou atenção
não foi simplesmente por suas roupas bonitas, mas pelo fato dela oferecer uma
numeração denominada “Plus Size” – discutirei esse termo aqui depois. Isso significa
que lojas desse tipo não existem em número tão largo quanto todas as outras
lojas de roupa. Mas o pior de tudo é a necessidade da existência dessas lojas.
Dificilmente pessoas com manequim 52 vão achar roupas em
quantidade e variedade suficiente em lojas “comuns”. Então essas pessoas
precisam uma linha com “tamanhos especiais” dentro dessa loja, ou então, de uma
loja que atenda especialmente essa faixa de numeração. O que geralmente ocorre
é que essas lojas são mais raras e consideravelmente mais caras. Isso acaba
excluindo pessoas que vestem essa numeração, mas não tem acesso a roupas de
determinado preço.
Além disso, um fato bem mais básico me incomoda. Na nossa
realidade atual, pelo que posso observar diariamente, é muito mais fácil de
encontrar pessoas ‘acima do peso’ do que em manequins considerados ‘normais’. Então
por que a oferta de roupas é tão pequena? Tudo bem, confesso que não entendo de
mercado, mas não acho que a procura seria tão pequena se a demanda fosse maior.
Digo isso porque conheço pessoas que chegam a comprar roupas de mesmo modelo em
cores/estampas diferentes por não conseguirem achar modelos variados que lhe
caiam bem nem opções variadas de lojas – e preços. E não vou muito longe, em
tamanhos extremos não, uma vez que a escala de numeração plus size já inclui
tamanhos a partir do 44.
O próprio termo “tamanhos especiais” ou o gringo “plus size”
já é um fator excludente, uma vez que infere que existe uma faixa de numeração
considerado normal e, acima disso, se precisa de tudo especial: roupas plus size,
moda pluz size, desfile plus size, miss plus size. É como se fosse uma
categoria diferente de pessoas. O fato é que também ainda não sabemos admirar
as pessoas como elas são (e não como achamos que elas deveriam ser) e ainda
temos muitos padrões a desconstruir.
Por exemplo, no mundo da moda, há um grupo que vem ganhando
força se afirmando como plus size, ajudando na divulgação e na ocupação de
espaços que inúmeras mulheres ainda precisam ocupar. Apesar de tudo, essas
modelos, ainda que vestindo manequim considerado fora do padrão, estão
adequadas a diversos padrões de beleza que a sociedade exige (cor da pele,
altura, traços do rosto, tipo de cabelo), o que faz com que muitas mulheres
ainda não consigam se sentir representadas.
Veja bem, não estou aqui dizendo o que é bonito ou feio (defendo
o que é saudável, acima de tudo), mas o que é real. Venho dizer que pessoas
podem e devem ser admiradas por tudo o que elas são além de seus corpos. E
pelos seus corpos também, seja qual for o tamanho deles.
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