Olá, pessoas, tudo bem?
Eis aqui o primeiro de quatro vídeos sobre a minha viagem a Minas Gerais esse ano.
No primeiro dia, cheguei no Aeroporto de Belo Horizonte e segui de Ônibus direto para Brumadinho, onde fica o Instituto Inhotim.
O Inhotim é um complexo artístico considerado um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e o maior acervo de arte ao ar livre da América Latina. Conta com obras assinadas por nomes nacionais e internacionais, a maioria delas convidando os visitantes a se experimentarem, interagirem e deixarem sua imaginação e criatividade fazerem o trabalho interpretativo.
Além disso, todo o investimento na flora do local e no trabalho de paisagismo fizeram com que o Inhotim entrasse para a Rede Brasileira de Jardins Botânicos (RBJB).
Sem falar no aspecto arquitetônico, que também é um dos fortes do Inhotim.
Eis aqui o primeiro de quatro vídeos sobre a minha viagem a Minas Gerais esse ano.
No primeiro dia, cheguei no Aeroporto de Belo Horizonte e segui de Ônibus direto para Brumadinho, onde fica o Instituto Inhotim.
O Inhotim é um complexo artístico considerado um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e o maior acervo de arte ao ar livre da América Latina. Conta com obras assinadas por nomes nacionais e internacionais, a maioria delas convidando os visitantes a se experimentarem, interagirem e deixarem sua imaginação e criatividade fazerem o trabalho interpretativo.
Além disso, todo o investimento na flora do local e no trabalho de paisagismo fizeram com que o Inhotim entrasse para a Rede Brasileira de Jardins Botânicos (RBJB).
Sem falar no aspecto arquitetônico, que também é um dos fortes do Inhotim.
“Un Cuento Chino” (lançado no Brasil como “Um Conto Chinês”) é um filme Argentino de 2011, escrito e dirigido por Sebastián Borensztein, tendo como protagonistas Ricardo Darín, Ignacio Huang e Muriel Santa Ana.
Imagem via: Guia da Semana |
Roberto tentou lhe ajudar, mas toda informação que tinha era
um endereço que Jun tinha em seu braço como tatuagem e que levava a uma loja
que era de seu tio, mas que tinha sido vendida a um argentino que não sabia
informar o paradeiro de seu “tapuo”.
Depois disso, Roberto manteve o chinês em sua casa enquanto procurava
por sua família.
Ainda que nenhum dos dois homens falasse a língua do outro,
eles tentavam se comunicar através de gestos e olhares. Com o passar dos dia, é
possível perceber que Roberto tem um passado sofrido e que não é tão frio por
dentro quanto parece ser por fora. A memória de seus pais, já mortos, está
sempre consigo, assim como em Jun está a memória de sua noiva. Esse sofrimento
é um ponto comum a esses dois homens tão distintos e acaba sendo uma ligação
entre essas duas vidas. Uma das ligações, aliás, já que Mari é outra importante
conexão, já que ela acaba conhecendo Jun e incentivando Roberto a ajudá-lo,
mesmo quando o anfitrião tem vontade de desistir da ideia.
Imagem via: Pragda |
A medida que o filme vai passando, é possível perceber que,
por trás da pele, há muitas coisas que os indivíduos carregam consigo e que não
se podem ser vistas com um simples olhar com os olhos, mas com um cuidadoso
olhar com o coração. Se uma apreciação adequada, não se poderia notar, por
exemplo, a profunda tristeza nos olhos de Roberto, o desespero em cada gesto de
Jun, e a desolação por trás do sorriso de Mari.
O filme mostra que há sentimentos que são comuns a todos os
povos, que nos fechar conosco mesmos não evita que soframos mais, e que, quando
abrimos nossas almas ao mundo, podemos ver que não estamos sós. É uma história
que, no começo, chega a cair numa comédia projetada sobre a tragédia e o absurdo,
mas que se mostra algo muito mais profundo, um doce olhar sobre os sentimentos
humanos meio os absurdos da vida.
Hoje eu acordei surpreendentemente animada, e não sei ao certo por que razão. Sei que tive uma noite de sono realmente boa, minha insônia me deixou de lado e comecei o dia super bem. O tempo estava gostoso e o Sol resolveu dar as caras. Resumidamente, foi uma manhã linda. Mas a beleza do dia não durou muito tempo. Eu realmente achei que a imagem brasileira em relação à política externa fosse impedir o que aconteceu nesse dia.
Hoje se desenvolveu a última etapa da consolidação do Impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, que foi, por decisão do Senado, afastada de seu cargo e Michel Temer oficialmente assumiu seu cargo.
Durante o mandato de Temer, ainda enquanto presidente interino do Brasil, diversas medidas insatisfatórias foram tomadas. A começar pelos planos de extinção do Ministério da Cultura, passando por cortes violentos à educação (inclusive, o fim do programa Ciência Sem Fronteiras, o que ajuda estudantes brasileiros a terem a oportunidade de estudar em diversidades estrangeiras a fim de agregar inovações científicas), dentre outras.
Mas agora, Michel Temer é, oficialmente, presidente do Brasil. O político que, não só é investigado, como já considerado inelegível, ou seja, ele não poderia concorrer, nas próximas eleições, ao próprio cargo que acaba de assumir. Se isso tudo faz sentido? Bem, eu realmente não sei mais o que pensar sobre nada.
Só sei temer. Temer. Esse sobrenome diz muito sobre esse momento. Temo pelo que será do nosso país a partir dos próximos dias, principalmente pela parcela - massiva - da população que mais necessita do investimento do governo, que agora está nas mãos da pessoa que citou a frase de uma placa que dizia: "Não fale em crise... Trabalhe!".
Eu não posso dizer como será esse próximo governo, mas as evidências estão aí - as primeiras medidas, os projetos, as alianças, os processos judiciais. Preciso chamar sua atenção para algo importante: o desenrolar da Lava Jato de hoje em diante. Apenas acompanhe a condução das investigações, as notícias (inclusive o comportamento dos jornais em relação a isso) e depois reflita sobre o quão distante ou quão íntima é a relação entre o processo de Impeachment de Dilma Rousseff e as investigações da Lava Jato.
Agosto poderia ter terminado sem essa.
Boa sorte para nós.
Dia desses estava passeando pelo shopping acompanhando minha
irmã, que comprava roupa para ela. Em algum momento, ela parou numa stand de
havaianas e eu fiquei circulando ali perto enquanto a esperava. Foi assim que
me deparei com uma loja descrita como moda ‘Plus Size’. A priori, achei as
roupas muito bonitas e veio uma sensação de alívio do tipo: “Ufa, que bom,
finalmente vejo roupas de tamanhos maiores com modelos variados”. Mas depois
vieram outros pensamentos não tão confortáveis.
Primeiramente, o fato de aquela loja ter me chamado atenção me
chamou atenção. Vou explicar. O que quero dizer é que aquela loja me chamou atenção
não foi simplesmente por suas roupas bonitas, mas pelo fato dela oferecer uma
numeração denominada “Plus Size” – discutirei esse termo aqui depois. Isso significa
que lojas desse tipo não existem em número tão largo quanto todas as outras
lojas de roupa. Mas o pior de tudo é a necessidade da existência dessas lojas.
"Mais que amigos", Anjos de Resgate
"Friends Will Be Friends", Queen
"Count on Me", Bruno Mars
"With a Little Help from My Friens", Joe Cocker
"A amizade é tudo", Jeito Moleque
"Hold My Hand" - Michael Jackson e Akon
Feliz Dia do Amigo <3
Desde que me entendo por gente, convivo com padrões de beleza convencionados socialmente e tradicionalmente legitimados. Ora um modelo europeu, com traços longilíneos, olhos claros, cabelos lisos, traços finos etc. Ora outro modelo mais próximo dos brasileiros, mais recentemente aceito, com curvas mais acentuadas, mas ainda assim, com pele perfeita e músculos definidos, cabelos pouco mais volumosos, mas ainda assim, “maleáveis”.
É indispensável ressaltar que, independente de qual modelo se esteja tratando, este ou aquele nunca será real expressão da realidade, justamente por serem modelos ideias, padrões que não ocorrem espontaneamente simplesmente por que as pessoas não são iguais.
E não precisam ser.
De poucos anos pra cá, coisa recente, a internet foi bombardeada de pessoas incentivando o uso do cabelo natural, e foram tornando-se cada vez mais frequentes termos como “transição” e “big chop”. Após um tempo de resistência, a mídia televisiva e até a indústria da moda acabaram acatando essa “tendência” e, claro, usando aos seus interesses.
Nas redes sociais, canais no YouTube, blogs e sites, surgiram diversos espaços para o incentivo e dicas para o cabelo natural. Infelizmente, esse movimento ainda não foi o suficiente para reduzir significativamente a discriminação em relação à beleza negra no Brasil. Não é difícil encontrar pessoas que deixam de alisar o cabelo, mas passam a usar outros produtos químicos que também modificam a estrutura dos fios a fim de “soltar os cachos” (frase muito dita em diversos salões que dizem trabalhar com a beleza negra); Outras fazem o big chop (corte que tira toda a parte alisada do cabelo) mas temem como o cabelo ficará ao crescer ou se arrependem depois do corte, não assumindo efetivamente o cabelo natural.
Observando e acompanhando esse movimento (há 3 anos deixei de alisar o cabelo), pude chegar a conclusão de que o problema está na base disso tudo: geralmente, para dar certo, tem que vir de dentro para fora, mas, na maioria das vezes, o que ocorre é o contrário. Isso, claro, influencia no modo como cada indivíduo vê a si e ao seu cabelo. Por exemplo, indivíduos de cabelo cacheado, até os tipos 3, tendem a ter menos problemas para assumir o cabelo natural e podem fazê-lo tanto por estética quanto por convicção, pois é um cabelo amplamente aceito. O difícil é quando esse processo é com pessoas de cabelos crespos, quando o assunto de torna mais delicado.
Fotografia: Clara Elisabeth
Meu cabelo é de um dos tipos 4, dos cabelos mais crespos e volumosos, que retêm mais a hidratação e tendem bastante ao frizz. Precisa de bastante cuidado? Sim. Menos bonito que os outros? Não. Mas nem todo mundo pensa assim. Pessoas próximas de mim já passaram pela transição, cortaram o cabelo, mas não assumiram o crespo. Inicialmente foi toda aquela alegria, sensação de libertação e tudo mais, mas depois… depois veio o arrependimento, a decepção e a vontade de ter o cabelo comprido e balançando novamente. Comigo, o assunto é das outras pessoas.
“Mas você vai deixar o cabelo assim mesmo?” “Olha o cabelo de fulana, por que você não deixa igual ao dela?” “Oi, nunca mais te vi! Seu cabelo está bonito, mas se você for lá no salão, tenho um produto ótimo que vai deixar seus cachos mais soltos!”
É difícil para as pessoas entenderem que eu simplesmente acho bonito meu cabelo assim. CRESPO. E bom, sim. Tenho cabelos naturais há pouco tempo, mas isso só tem a ver com a parte que materializei minhas convicções. A parte em que tomei coragem de dizer ‘não’ até às pessoas mais próximas e não ligar para outras opiniões. Mas as ideias já vinham amadurecendo ali há bastante tempo, só faltou um grito de coragem. Faltava. E agora sou um estandarte levantando essa bandeira com orgulho. Não, não foi fácil. Ainda não é. E não será tão cedo.
Posso chegar a conclusão de que o que é tendência é o cabelo cacheado bem volumoso, não o cabelo natural em si. Essa 'vibe naturalista’ é ótima para quem se encaixa em alguns padrões. Para outros… Bem, eles não ligam pra gente.
O cabelo crespo ainda não é visto como bonito, elegante, limpo, fashion, sensual. Fica ali no “exótico” ou “de atitude”.
É possível perceber quando as pessoas querem parar de alisar o cabelo por impulso e por influência dessas mídias quando elas querem que se aproximem ao máximo de determinado tipo. “Será que vão formar cachos?” -algumas amigas minhas perguntavam. Não, isso não é sobre ter o cabelo natural. Além de tudo que já citei, ainda há aqueles eufemismos infames que, acredite ou não, só pioram a situação (esses eufemismos me matam!): “O cabelo dela(e) é 'meio ruinzinho’, mas pelo menos tem um rosto bonito”/ "é negra(o), mas tem traços finos" ou mesmo quando o assunto não é cabelo, como “é gordinha(o), mas é bonita(o) de rosto”/ “nem é tão negro(a) assim”. Reforçando: só piora. Só para deixar mais claro, estou falando aqui sobre olhares tortos, discriminação, desrespeito. Estou falando aqui sobre RACISMO. E estou pegando leve.
Esse não é um texto sobre cabelos.
Muitas vezes vejo discussões em diversos meios sobre a aceitação da beleza negra. Vejo que isso vem se tornando, de algumas partes, uma imposição também. Mas isso não leva a lugar algum. Não é uma simples argumentação e pronto. É questão de identidade. E ninguém constrói sua identidade de uma hora para outra. Imagine então, para desconstruir e assumir uma nova imagem. (Só para refletir: Muitas dessas pessoas que querem impor o cabelo natural são as mesmas que te ensinam sem hesitação truques para afinar o nariz com maquiagem. Só um detalhe.)
Machuca ter que dizer que a dificuldade não é deixar de alisar o cabelo e pronto. A dificuldade, ainda hoje, ainda no Brasil, é assumir o cabelo crespo. A dificuldade é se assumir como negro e entender que é uma questão muito além da cor da pele.
Oi, pessoas, tudo bem?
Morro de São Paulo é uma vila de uma ilha da Bahia chamada Tinharé, localizada na Costa do Dendê e é um dos principais destinos turísticos baianos.
Fica próximo ao município de Valença, que é o melhor caminho por terra saindo da capital baiana (Salvador). De Valença sai grande parte das embarcações para o Morro de São Paulo e adjacências, já que só se é possível chegar ao local por transportes marítimos ou aéreos.
Como lá não circulam automóveis - o que garante um clima de tranquilidade e "refúgio" ao Morro de São Paulo -, é muito comum se ver "táxis" para as bagagens, que são carregadores que, por um preço a ser negociado, levam suas malas em um carrinho de mão.
No mais, as paisagens são belíssimas, as praias são ótimas e o fato de não se poder passear de automóvel faz com que você aproveite bem mais o caminho até chegar ao seu destino. Vale a pena explorar as praias mais adiante e não ficar somente nas primeiras - embora a caminhada possa cansar um pouco, mas vale a pena.
Uma opção é ir de trator às praias mais distantes, como a de Garapuá. Há muito o que se fazer por lá. Duas dicas para quem quer fazer algo diferente: tem a famosa tirolesa, que sai do lado do morro em direção à praia; e tem mergulho e flutuação também.
A noite no Morro é bastante movimentada - pelo menos em altas temporadas e feriados prolongados -, as lojas, bares e restaurantes permanecem abertas e os artesãos se aprontam para vender suas artes. Além disso, há muitas boates e festas diversas, ou seja, a noite é uma criança.
A maior dificuldade é mesmo ter que voltar pra realidade. E pra casa. (rs)
Esse é um teaser da minha viagem ao Morro de São Paulo, em outubro de 2015.
Morro de São Paulo é uma vila de uma ilha da Bahia chamada Tinharé, localizada na Costa do Dendê e é um dos principais destinos turísticos baianos.
Fica próximo ao município de Valença, que é o melhor caminho por terra saindo da capital baiana (Salvador). De Valença sai grande parte das embarcações para o Morro de São Paulo e adjacências, já que só se é possível chegar ao local por transportes marítimos ou aéreos.
Como lá não circulam automóveis - o que garante um clima de tranquilidade e "refúgio" ao Morro de São Paulo -, é muito comum se ver "táxis" para as bagagens, que são carregadores que, por um preço a ser negociado, levam suas malas em um carrinho de mão.
No mais, as paisagens são belíssimas, as praias são ótimas e o fato de não se poder passear de automóvel faz com que você aproveite bem mais o caminho até chegar ao seu destino. Vale a pena explorar as praias mais adiante e não ficar somente nas primeiras - embora a caminhada possa cansar um pouco, mas vale a pena.
Uma opção é ir de trator às praias mais distantes, como a de Garapuá. Há muito o que se fazer por lá. Duas dicas para quem quer fazer algo diferente: tem a famosa tirolesa, que sai do lado do morro em direção à praia; e tem mergulho e flutuação também.
A noite no Morro é bastante movimentada - pelo menos em altas temporadas e feriados prolongados -, as lojas, bares e restaurantes permanecem abertas e os artesãos se aprontam para vender suas artes. Além disso, há muitas boates e festas diversas, ou seja, a noite é uma criança.
Esse é um teaser da minha viagem ao Morro de São Paulo, em outubro de 2015.
Oi, pessoas. Tudo bem?
Depois desse intervalo imenso, vim aqui dizer que não abandonei esse blog, e, em meio a esse momento tenso que o Brasil está vivendo, vim trazer uma temática de luta, mas também de esperança. Então trouxe um filme que remonta a história de várias mulheres guerreiras, que buscaram romper barreiras em busca de seus objetivos, mesmo indo de encontro aos valores culturais da sua sociedade.
O filme “Mulan: A Rise
of a Warrior” (outros títulos “Mulan: Legendary Warrior”; “Hua Mulan”), é uma produção
chinesa lançada em 2009, dirigida por Jingle Ma e Wi Dong, escrita por Ting
Zang. Retrata a história de Hua Mulan, uma lendária heroína chinesa, cuja
história foi difundida no poema “A Balada de Hua Mulan” (composta durante a
dinastia Tang, no século VII), cuja tradução se apresenta abaixo:
Click, click, e click,
click, click
Junto à porta, Mulan
tece,
Quando, de repente, a
lançadeira cessa
Ouve-se um suspiro cheio
de angústia
Oh, minha filha, quem
está em sua mente?
Oh, minha filha, quem está
em seu coração?
Não há ninguém em minha
mente
Não há ninguém em meu
coração
Mas noite passada li
sobre a batalha
Eram doze pergaminhos
O Khan sorteará os que
irão à guerra
O nome de meu pai está em
todas as contas
Ah, meu pai não tem um
filho crescido
Ah, Mulan não tem um
irmão mais velho
Mas comprarei uma cela e
um cavalo e me unirei ao exército no lugar de meu pai
No mercado do leste ela
compra um corcel
No mercado d’oeste ela
compra uma sela
No mercado do norte ela
compra um longo chicote
No mercado do sul ela
compra uma rédea
Na alvorada ela se
despede da família
No crepúsculo ela se
assenta à beira do Rio Amarelo
Ela não mais ouve seus
pais a chamarem
[...]
Por doze anos lutamos
como camaradas
A Mulan que conhecemos
não era uma mulher graciosa
Dizem que conhecemos uma
lebre segurando-a pelas orelhas
Há sinais para
distinguirmos
Suspenso no ar, o macho
chutará e se debaterá, enquanto que as fêmeas ficarão paradas, com os olhos a
lacrimejar
Mas se ambos estão no
chão a pular em liberdade singela, quem será tão sábio para dizer se a lebre é
ele ou ela?
(Trecho de “A Balada de
Mulan”, poema chinês)
A muitas pessoas, a
história de Hua Mulan já foi apresentada na infância, através de uma famosa
adaptação norte-americana para o cinema, uma animação produzida pela Walt
Disney, lançada em 1998. Mas as semelhanças do filme que será aqui apresentado
e a animação param por aí. Diferentemente da versão da Disney, o filme chinês é
feito por atores, dentre eles, Wei Zhao, Kun Chen, Jaycee Chan, Liu Yuxin, Yu Rongguang
e Jun Hu.
A narrativa se passa no
cenário de guerra, quando a china foi invadida e o imperador estabeleceu que
cada família deveria enviar um homem ao exército para defender a nação. Em uma
dessas famílias, Hua Hu (Yu Rongguang), estava muito adoentado e com idade já
avançada, mas foi convocado para lutar, pois não tinha nenhum filho do sexo
masculino, sendo o único homem da família. Inconformada com essa situação, sua
filha Hua Mulan decide fugir com o uniforme de guerra do pai, indo lutar em seu
lugar, se apresentando ao exército como homem.
No campo de batalha,
Mulan encontra um amigo seu de infância, conhecido como “Tigre” (Jaycee Chan) e
que a reconhece logo a princípio, mas é fiel a ela, mantendo seu segredo
guardado e tenta lhe ajudar sempre que possível a disfarçar seu lado feminino.
Com o passar do tempo, ela, que já tinha certa habilidade em lutas, vai
desenvolvendo sua habilidade e aos poucos, ganhando confiança e a admiração das
pessoas dentro do exército, inclusive de uma pessoa em especial, Wentai (Kun
Chen), que também era considerado um grande guerreiro, com o qual serão
formados fortes laços. Juntos, os dois ascendem em suas posições, tornando-se
generais e comandando as batalhas em defesa da China.
Embora um dos
subtítulos do filme seja, em uma tradução livre, “A Ascensão do Guerreiro”,
essa interfase entre um guerreiro qualquer e um general não é tão explorada no
filme. A progressão de Mulan e de Wentai é representada de forma rápida,
aparentemente apenas para que faça sentido para o espectador. Outra ressalva em
relação ao aspecto temporal do filme é que algo na forma como este se
desenvolve faz com que, ao final, o espectador quase não perceba que se
passaram cerca de 12 anos desde o início da guerra.
Apesar disso, o filme
explora de maneira grandiosa detalhes que, por vezes são deixados de lado em
filmes do gênero, como o sentimento dos guerreiros ali presentes, seja em
relação a sua família, que eles nunca sabem ainda verão novamente, ou seja,
dentro do próprio exército, já que as relações ali presentes acabam indo além
da simples convivência e parceria de lutas. Surge também o sentimento de
irmandade, que pode ser um alento em muitos momentos, mas uma dor imensurável
em outras, afinal, se tratando de guerra, a ocorrência de mortes é uma infeliz
certeza. Mulan, inclusive, sofre bastante com isso durante a guerra, sendo que
muitas vezes não suportava a ideia de perder seus amigos e acabava adotando
estratégias de guerra equivocas, causando um estrago maior do que poderia
imaginar. Ao longo de sua trajetória, ela vai aprendendo a lidar com esse
sentimento e a sentir como um amigo e a agir como um general. Aliás, não só ao
ver amigos morrendo, mas também ao ter que matar seus inimigos. Além da
necessidade de adaptação a essa situação angustiante, outro aspecto é explorado
no enredo: a honra, mostrando uma característica marcante nas histórias
chinesas. Para eles (e Mulan sempre reforçava isso), se a família tivesse que
receber uma notícia de morte, que fosse dentro do campo de batalha. Ao
guerrilhar, eles tinham em mente a sua missão, que era defender a nação, e esta
deveria estar acima de seus sentimentos individuais.
Esses embates
emocionais são muito bem retratados ao longo do enredo, mostrando que esse não
é só mais um filme de ação. O mesmo apresenta cenas de lutas muito bem feitas e
intensas e, com um bom dinamismo, mostra o ambiente árido de uma guerra, as
dificuldades que se enfrenta, a escassez de suprimentos, as batalhas perdidas.
Mas também é dotado de uma sensibilidade admirável (e muito bem dosada), além
de ótimas atuações, que não desmereceram o roteiro muito bem elaborado e só
enriqueceram o filme. Inclusive, de nada adiantaria a qualidade do roteiro se
os atores não transmitissem essa mensagem tão bem. O filme tem um peso emocional
considerável e as atuações permitem que haja uma identificação sentimental por
parte de quem está assistindo.
Uma dos pontos fortes
do filme é o fato de ser um filme chinês sobre a cultura da China, com a grande
vantagem de não ser uma produção ‘hollywoodiana’ com seus traços estilísticos
já desgastados. Do contrário, se afasta de muitos clichês e padrões comuns no
cinema norte-americano com uma qualidade técnica tão digna quanto, mas com a
capacidade de explorar aspectos culturais tão importantes na construção do
enredo.
Embora não se saiba ao
certo se a narrativa presente no poema de Hua Mulan (no qual o filme é baseado)
tem uma inspiração em alguma história real ou não, é verdade que tanto a
história como a personagem serviram (e servem) de inspiração para muitas
pessoas, principalmente garotas, dentre outros motivos, por apresentar uma
heroína forte, inteligente e sensível, com qualidades e defeitos humanos, e com
escolhas que não necessariamente tem seu foco no amor de um homem. Dentro do
campo de batalha, o filme mostra que Mulan cresceu como pessoa e como
guerreira, aprendeu muito com seus colegas de guerra, e ainda contribuiu, não
só com as lutas em si, como também como fonte de motivação e inspiração dentro
do exército e, não por acaso, era tão admirada. E mais um detalhe cativante em
Mulan: diferentemente de muitas heroínas do cinema, ela é protagonista de sua
própria história.
“Mulan: A Rise of a
Warrior” é uma obra marcante e envolvente, uma abordagem madura sobre a
lendária Hua Mulan, e uma produção de tirar o chapéu, que, além do enredo e das
atuações, a trilha sonora, o figurino e a fotografia também são dignos de nota.
Faz valer a pena cada um dos seus 110 minutos.