[ERRO DE FABRICAÇÃO]

By Clara Elisabeth - 19:54

Mais um dia de trabalho. Nunca pensei que ser músico seria tão duro, principalmente para quem não tem um rosto bonitinho e nem alguém disposto a colocá-lo na telinha. Vencer por puro mérito está cada vez mais difícil, meu rei.

E levando essa vida, já passei por muitos altos e baixos, enquanto em alguns dias me reuni com amigos em bares de primeira, em outros, agradeci a sorte de ter todas as refeições do dia. Família? Nem sei por onde andam essas pessoas. Sempre fui a ovelha-negra da família e não seguir medicina só fez confirmar o que todo mundo já sabia. Aliás, deixaram bem claro que, se eu resolvesse ser cantor, eu que me virasse para achar um ombro para chorar. Não digo que sigo sozinho, não, tenho amigo, poucos, mas suficientes. Companheiros, estão comigo em todos os momentos. Somos diferentes, mas nosso som é o que nos une.

Ao longo desses anos, aprendi muita coisa. Uma delas foi a valorizar cada experiência e cada minúcia diária. Cada sorriso, cada abraço, cada olhar, cada lágrima, cada luta e cada vitória, cada tristeza e as pequenas e grandes alegrias, preocupo-me em impor a cada nota. Sempre batalhei e estudei para aprender a encaixar em cada tom tudo o que minha alma quer expressar. Foram noites perdidas, dinheiro investido em cada apostila e em cada instrumento, lembranças de cada cidade que ficaram no meio da estrada. Quantos e quantos me fecharam as portas? Quantas vezes vi meus planos afundando e levando junto meu estímulo? E os empresários, que sempre disseram que eu não sirvo para os padrões do mercado musical… Eu não ligo para fama, não, muito pelo contrário, sempre fiz parte do cenário underground. Mas sempre quis o melhor, sabe? Meu desejo é tocar o coração de mais e mais gente com meu som. E ter a garantia de cama, mesa e banho todo dia.

Hoje, escrevo porque, finalmente, compreendi que realmente não sirvo para os padrões comercias. Sim, a música hoje é um comércio. Não é mais como nas décadas de, sei lá, 70, 80, em que a música era mais que entretenimento, era estilo de vida. Diariamente observo o gosto musical viral, cada vez mais hostil e frívolo que domina cada alto falante.E ainda não sei como vocês, mulheres, se submetem a essa situação.  Não, eu não quero fazer parte disso. Cada acorde, e cada letra que criei foi acreditando na essência que inflama em minhas veias.

Meu tempo está acabando e ainda vou tocar mais tarde. Show? não, um luau. Há quanto tempo não sinto esse clima de tranquilidade… Sinto-me satisfeito em não ter agenda de artista. Tenho tempo para essas pequenas coisas, tempo para essa sensibilidade. Sou feliz em ser um produto sem rótulo e fora de série.

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