Brasil, século XXI, época em que as
crianças já crescem diretamente ligadas às mais diversas tecnologias, as informações
são transmitidas em velocidade impressionante e em volume expressivo e as
pessoas acreditam que podem estar em vários lugares ao mesmo tempo. É nesse
cenário que diversos pensamentos com aspectos hostis e assuntos repletos de
tabus ainda resistem ao tempo e à modernidade.
As obras televisivas e de outros veículos de comunicação parecem deter
do poder de tratar de diversos temas de forma aberta e diretamente ao público,
que acredita, em sua maioria, estar vivendo em um país realmente democrático e
moderno. Contudo, fazendo uma análise sobre assuntos recorrentes ao cotidiano,
nem sempre é tão aberta e direta a forma como se discute sobre religião,
sexualidade, as etnias e alguns outros temas que, assim como esses últimos
apresentados, podem estar intrinsecamente ligados.
As pessoas ainda julgam as outras com base em conceitos que nem sempre
são sustentados por argumentos sólidos. Muitas vezes são conceitos arbitrários
e relativos que são professados como regras absolutas. E assim, as pessoas se
tratam com intolerância.
Recentemente uma pesquisa apresentou índices alarmantes acerca de um
pensamento machista sobre mulheres que usam roupas curtas. Não cabe aqui a
discussão sobre a validade ou não dessa pesquisa, bem como sua precisão na
apresentação de dados. Tal notícia serviu de brecha para comentários originados
de diversos indivíduos, de diversas ideologias, se chocarem e confrontarem.
Muitos confirmando o resultado da pesquisa, muitos manifestando a revolta com
os números apresentados e com o que eles significam. Inúmeras declarações
contra o machismo surgiram e, em resposta, muitos afirmaram que são
veementemente contra o feminismo.
Lendo algumas opiniões, é possível perceber que grande parcela não
entendia ao certo do que se trata, de fato, o movimento feminista. Analisando o
âmbito em que se encontra a sociedade brasileira atual, de modo geral, pode-se
concluir que a falta de informação não é o problema. Mas essas informações são
falhas, superficiais e permitem variadas possibilidades de interpretação. Esse
é o ponto.
É perceptível que as pessoas têm sede de informação, mas de velocidade
também. É expressiva a quantidade de pessoas que se desligam facilmente de um
assunto assim que obtêm uma informação que pareça suficiente e a preocupação de
investigação em diversas fontes não persiste na maioria dos casos. E é nesses
casos que as interpretações sobre um determinado ponto são aquelas que foram
intencionalmente pré-moldadas pelo informante e são difundidas e assimiladas em
larga escala. Como, após incontáveis conquistas e mudanças, ideologias
medievais ainda predominam na sociedade contemporânea? Os brasileiros ainda
vivem na ilusão se serem esclarecidos e de saberem lidar perfeitamente com as
diferenças, mas na prática, ainda trazem em si traços do Brasil Colônia.
O sistema que rege esta sinfonia social coage os indivíduos a serem cada
vez mais individualistas e a fecharem suas mentes e a tentarem impor sua
opinião ao próximo, dificultando o alcance de um equilíbrio ou de um novo ponto
de vista. E se essa tecnologia de informação exerce tamanha força sobre a forma
de pensar de tantos adultos, não é difícil de imaginar qual o futuro das
crianças que se acostumaram a ver o mundo através de uma tela.
Clara Elisabeth. Leonina, curiosa, míope. Soteropolitana, tricolor de Aço. Apaixonada por música, animais, fotografia e viagens. Amo ler e arrisco escrever nas horas vagas. O Cacau com Chocolate é o espaço onde compartilho algumas experiências, curiosidades, inquietações e o meu olhar sobre o mundo.
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