Tecnologia Limitada

By Clara Elisabeth - 12:31

Brasil, século XXI, época em que as crianças já crescem diretamente ligadas às mais diversas tecnologias, as informações são transmitidas em velocidade impressionante e em volume expressivo e as pessoas acreditam que podem estar em vários lugares ao mesmo tempo. É nesse cenário que diversos pensamentos com aspectos hostis e assuntos repletos de tabus ainda resistem ao tempo e à modernidade.

As obras televisivas e de outros veículos de comunicação parecem deter do poder de tratar de diversos temas de forma aberta e diretamente ao público, que acredita, em sua maioria, estar vivendo em um país realmente democrático e moderno. Contudo, fazendo uma análise sobre assuntos recorrentes ao cotidiano, nem sempre é tão aberta e direta a forma como se discute sobre religião, sexualidade, as etnias e alguns outros temas que, assim como esses últimos apresentados, podem estar intrinsecamente ligados.

As pessoas ainda julgam as outras com base em conceitos que nem sempre são sustentados por argumentos sólidos. Muitas vezes são conceitos arbitrários e relativos que são professados como regras absolutas. E assim, as pessoas se tratam com intolerância.

Recentemente uma pesquisa apresentou índices alarmantes acerca de um pensamento machista sobre mulheres que usam roupas curtas. Não cabe aqui a discussão sobre a validade ou não dessa pesquisa, bem como sua precisão na apresentação de dados. Tal notícia serviu de brecha para comentários originados de diversos indivíduos, de diversas ideologias, se chocarem e confrontarem. Muitos confirmando o resultado da pesquisa, muitos manifestando a revolta com os números apresentados e com o que eles significam. Inúmeras declarações contra o machismo surgiram e, em resposta, muitos afirmaram que são veementemente contra o feminismo.

Lendo algumas opiniões, é possível perceber que grande parcela não entendia ao certo do que se trata, de fato, o movimento feminista. Analisando o âmbito em que se encontra a sociedade brasileira atual, de modo geral, pode-se concluir que a falta de informação não é o problema. Mas essas informações são falhas, superficiais e permitem variadas possibilidades de interpretação. Esse é o ponto.

É perceptível que as pessoas têm sede de informação, mas de velocidade também. É expressiva a quantidade de pessoas que se desligam facilmente de um assunto assim que obtêm uma informação que pareça suficiente e a preocupação de investigação em diversas fontes não persiste na maioria dos casos. E é nesses casos que as interpretações sobre um determinado ponto são aquelas que foram intencionalmente pré-moldadas pelo informante e são difundidas e assimiladas em larga escala. Como, após incontáveis conquistas e mudanças, ideologias medievais ainda predominam na sociedade contemporânea? Os brasileiros ainda vivem na ilusão se serem esclarecidos e de saberem lidar perfeitamente com as diferenças, mas na prática, ainda trazem em si traços do Brasil Colônia.

O sistema que rege esta sinfonia social coage os indivíduos a serem cada vez mais individualistas e a fecharem suas mentes e a tentarem impor sua opinião ao próximo, dificultando o alcance de um equilíbrio ou de um novo ponto de vista. E se essa tecnologia de informação exerce tamanha força sobre a forma de pensar de tantos adultos, não é difícil de imaginar qual o futuro das crianças que se acostumaram a ver o mundo através de uma tela.

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