Ela se chama Laura. Teve a criação
perfeita. Tinha pais adoráveis, um irmão que a tratava como princesa, era
alegra e estava sempre rodeada de amigos. Era uma menina incrível, adorava
brincar, era ativa, determinada e muito esperta. Mas tinha um problema: era
asmática.
Laura sempre brincava com seus amigos na
rua, na época em que as crianças podiam se divertir em paz, mesmo através dos
limites do portão de casa, mas tinha que conviver com uma condição: como não
podia fazer muitos esforços devido à sua asma, era sempre considerada
café-com-leite em brincadeiras que exigiam mais fôlego. Apesar de já ter se
acostumado com a situação, ainda não havia aceitado-a. Era um desconforto para
aquela menina ter sua capacidade subestimada todos os dias, mas não costumava
reclamar, já que era a mais nova do grupo. Mas Laura achava muito mais válido
brincar e perder do que ser café-com-leite. Por diversas vezes, Laura até se
esforçava para correr no pega-pega, mas frequentemente, ouvia coisas como “nem
vou correr atrás de Laura, ela é só uma café-com-leite, mesmo”.
E aos poucos, ela foi perdendo a vontade
de brincar. Cansou de se sentir um zero à esquerda. Os amigos a chamavam para
brincar na rua, mas ela sempre dizia que estava cansada. Como passou a ficar
mais tempo em casa, ganhou mais tempo para si e se entregou aos estudos. Passou
a ler cada vez mais os mais diversos tipos de gênero, assistia a filmes e
jogava bastante. Devagarzinho, foi aprendendo a dividir o seu tempo entre os
estudos e a diversão. Acabou construindo um mundo dentro do seu quarto. Tinha
sonhos e planos. Passou a ter uma mente mais aberta e se interessava pelos mais
diversos assuntos, o que foi impulsionado pela sua curiosidade.
Gostava de estudar história e linguagens, o que a fez ter um olhar bem desenvolvido quanto às sociedades e a compreender e respeitar as mais diversas culturas. Com os jogos online, se comunicou com pessoas de toda parte do mundo e acabou mantendo os contatos,
Após um ano sem brincar na rua, Laura já se sentia diferente. Percebeu em si mesma uma maturidade que só imaginava adquirir em um futuro mais distante. Às vezes, olhava pela janela as outras crianças brincando na rua. Já não sentia saudades como no começo: agora, estava
usando seu potencial para fazer coisas que sua asma não poderia impedir. Depois
de tanto tempo se encantando com a leitura, passou a escrever, a princípio,
sobre sua vida – como forma de desabafo -, mas depois passou a escrever os mais
lindos contos e poesias.
Na escola, era aluna de destaque e foi
ganhando respeito e espaço na vida escolar. Como falava muito bem, era
considerada “a diplomata” da classe e foi a porta-voz de suas turmas durante
anos. No ginásio, passou a se envolver com artes cênicas (não, Laura não
atuava, mas escreveu inúmeras peças para as apresentações da escola). No ensino
médio, conheceu o desenvolvedor de um projeto de artes cênicas, que pagou para
que ela escrevesse uma peça, que seria apresentada em um teatro renomado. Com o
dinheiro e o sucesso da peça, Laura conseguiu viajar para a Coreia com seus
pais. Observando e questionando tudo como de costume, resolveu que deveria
escrever sobre a cultura daquele lugar. Anotou em sua agenda, tudo o que
observou, todos os aspectos, as cores, entrevistou as pessoas e registrou até
os menores detalhes com sua câmera, que a acompanhava como sua sombra.
Clara Elisabeth
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